terça-feira, abril 26

Música, sempre música ...


Porque de repente dei comigo a ouvir “Girlfriend in a coma”, surpreendentemente vinda de onde não esperaria, lembrei-me que na madrugada de segunda-feira, depois de com muito prazer ter dançado ao som de “Bigmouth strikes again” dos The smiths, vi-me envolvida numa conversa, que não sendo nova, nunca deixa de me surpreender. Alguém me disse que tinha acabado de dançar a pior música deles, o que me deixou logo incomodada. Quanto a mim, a frase “pior música” não se aplica aos The Smiths. E até admito que a letra não seja muito interessante, mas a música tem um “balanço” interessante e é cheia de garra. É uma letra sobre alguém que meteu “a pata na poça” e que se sente mal por isso, coisa que já nos aconteceu a todos, acho. E pronto… até é o toque do meu telemóvel.
Mas o que me incomodou mais foi a afirmação de que a melhor música é “There is a light that never goes out”. Já aqui escrevi algo onde dei esta música como exemplo (http://na-corda-bamba.blogspot.pt/2015/02/comunicar-atraves-de-musica-ou-nao.html) e por isso não me vou alongar muito. Talvez seja a mais conhecida, a mais ouvida, mas também a menos compreendida. E a conversa derivou de novo para aí. Esta não é uma música de amor, não é uma música bonitinha. Fala de desespero, da busca por uma esperança que pode nem lá estar. Mas continua a suscitar muito “love”, a ser dedicada a cara-metade e por aí fora.  “E se um autocarro de dois andares chocar connosco, morrer ao teu lado é uma maneira celestial de morrer” não é romântico, deixem-se disso.

quarta-feira, abril 20

Procura-se serenidade perdida numa tarde frágil...


Por vezes basta um olhar, um simples encontro furtivo entre olhares, ou um toque de pele não intencional e algo se acende, como um pequeno choque indolor. Outras vezes é uma simples conversa, inócua, aparentemente sem qualquer consequência, mas tão subtilmente cheia de vontades, tão subtilmente que só damos por isso quando já não há conversa. Inesperadamente já estamos “enrolados” em algo que não quisemos, e continuamos a não querer, ou achamos racionalmente que não. E por mais que digamos para nós próprios “não… não vás por aí, esquece isso…”, a ‘coisa’ vai permanecendo, esquecida por momentos mas sempre viva e incómoda. Tentamos não lhe dar importância numa luta inglória cansando-nos até ao adormecimento. É quase desesperante como o cérebro, tão racional, não deixa essa racionalidade vencer.
Arranjamos uma centena de desculpas para não querer e outras tantas para achar que talvez, talvez valha a pena perceber o que é. Andamos nisto demasiado tempo, ao ponto de quase termos vontade de pôr um anúncio nos perdidos e achados “procura-se serenidade perdida numa tarde frágil”.
Há dias, numa das noites em que me abandonar no sofá me parece a solução, deparei-me com uma frase num filme “deixamos de tocar os outros porque não queremos que eles percebam o que sentimos” ou algo parecido com isto. É verdade. Tentamos ignorá-los (como se isso fosse possível), dizemos para nós que não queremos saber, mas queremos… e vamos sabendo ou achando que sim. E lá decidimos tentar abordar a ‘coisa’, mas como serenidade já não temos, baralhamos tudo e ficamos pior, e lá voltamos ao mesmo “opá…esquece lá isso, tu não queres mesmo continuar nesta insanidade”. Enfim… um dia passa, já não sentimos nada, apenas um imenso vazio.
Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.