sexta-feira, outubro 29

Tentei fugir da mancha escura

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

David Mourão-Ferreira

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bem-aventurada, bem dita mancha escura que é a porta para os mistérios invisíveis,indívisiveis, indizíveis do corpo do ser amado: existe esplendor tanto na escuridão de negro como na luz de branco...beijos grandes, Linda

4:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

4:21 da manhã  

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