quarta-feira, junho 8

"Balada dos Cãotribuintes"

Somos nós os desventurados
Os pobres contribuintes
Obrigados a sofrer até ao fim dos tempos
A sorte a que imper
A que impertubáveis
Nos condenam os nossos governos
Todos os nossos governos

Se meteres cem francos de gasolina
Oitenta vão para o Estado (e o estado não sou eu)
Olha cheio de concupiscência
Os cadillac… Olha pra outro lado
No teu dois cavalos de brincar
Saltita ao longo dos caminhos
É uma sorte poderes circular
Amanhã vão-to proibir
Taxa sobre álcool e a cerveja
Sobre os definitivos e os provisórios
Sobre o triste celibatário
Castigado por ser só um (um quê, aliás?)
Controlam-te todos os passos
Ah compraste um belo naco
Tudo corre às mil maravilhas
Paga guloso paga pró saco

Numa bandeja o Estado dá-te
Um prato… apanhas um desgosto
Está vazio E tu admiras-te
Mas é o prato do imposto
Tu passeias pela vida
De peito feito e cheio impante
Cuidado com o imposto sobre energia
É para ontem… ou mesmo antes
Um belo dia sobre o oxigénio
Ligar-te-ão o contador
Tarifa simples o ar do Sena
Tarifa dupla o ar da serra
Eis porém que tu te fartas
Preferes andar aos caídos
Ou tornar-te engolidor de facas…
Taxa de engolidor acrescentada

Um remédio o casamento
Dizes de súbito e corres
À procura de uma rapariga séria
Que saiba de amor e de comes
Apressas-te e calculas
Que ao fim de doze filhos o abono
Do teu rendimento minúsculo
Compensará a escassez

Mas um inspector das finanças
Põe-se a badalar a ideia
E pare… sem dor por minha fé
Um texto cheio de veia
Então a Câmara classifica-te
Como garanhão de cobrimento
Medem-te e tens mais
Pagas taxa sobre o comprimento

Se pagares para alguma coisa
Sempre tinhas justificação
Mas infeliz daquele que ousa
Perguntar pr’onde vai o cifrão
Temos estradas miseráveis
Não há escolas mas padres
Acabou o bom vinho carrascão
Mas fornecem-nos o puré
O governo de França
Republicano – ou que assim diz que é –
Só um prato oferece com abastança
O frango… pilim para o arroz
E para evitar a falência
Dos pobres vendedores de canhões
Faz-se uma guerra do pé para a mão
À guerra não se diz que não…

Mas nós pobres cães os pobres contribuintes
Virá um dia em que de pau em punho
Nos consolaremos a limpar o redil
Onde os nossos seiscentos porcos estão maduros para o enchido

Poema de Boris Vian, in “Cancões e poemas”

2 Comments:

Blogger mabeka said...

oh reporter, até ao fim do mês ainda consegues o ossito com iva a 19%, mas olha que é mesmo sequito. bjs

2:26 da tarde  
Blogger mabeka said...

o Boris já não Vien jjvd. Se na 1ª metade do sec. XX a coisa já suscitava este tipo de canção (sim porque é uma canção), faz parecer que não houve grande mudança. Como dizia a minha contabilista ontem, somos mesmo tratados como cães e sem nos oferecerem osso. Beijos grandes

2:29 da tarde  

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