"Interior"
"Carne assaltada
da plenitude do um e do outro.
E aqui cada coisa, como se fosse a última
a ser dita: o som de uma palavra
casada com a morte, e a vida,
este meu dom
de desaparecer.
Persianas fechadas. O pó
de um antigo eu, esvaziando o espaço
que não ocupo. Esta luz
que cresce ao canto do quarto,
para onde o todo do quarto
se deslocou.
A noite repete-se. Uma voz que me fala
de insignificâncias apenas.
Nem sequer de coisas - mas dos seus nomes.
E onde não há nomes -
de pedras. Tumulto de cabras
trepando às aldeias
do meio-dia. Um escaravelho
devorado na esfera
do seu próprio estrume. E ao longe um enxame
de borboletas violáceas.
Na impossibilidade das palavras,
na palavra por dizer
que asfixia,
é que eu me encontro."
Interior in "Poemas Escolhidos" de Paul Auster
da plenitude do um e do outro.
E aqui cada coisa, como se fosse a última
a ser dita: o som de uma palavra
casada com a morte, e a vida,
este meu dom
de desaparecer.
Persianas fechadas. O pó
de um antigo eu, esvaziando o espaço
que não ocupo. Esta luz
que cresce ao canto do quarto,
para onde o todo do quarto
se deslocou.
A noite repete-se. Uma voz que me fala
de insignificâncias apenas.
Nem sequer de coisas - mas dos seus nomes.
E onde não há nomes -
de pedras. Tumulto de cabras
trepando às aldeias
do meio-dia. Um escaravelho
devorado na esfera
do seu próprio estrume. E ao longe um enxame
de borboletas violáceas.
Na impossibilidade das palavras,
na palavra por dizer
que asfixia,
é que eu me encontro."
Interior in "Poemas Escolhidos" de Paul Auster
1 Comments:
Por vezes é mesmo o que não conseguimos dizer que nos asfixia. Beijo grande
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