quinta-feira, fevereiro 17

Plágio ou não plágio

Na semana passada estava a ver o programa da jornalista Ana Sousa Dias “Por outro lado” em que o entrevistado era o Jorge Palma, onde surgiu mais uma vez a questão do plágio.
Sou fã do Palma, não só porque o acho um grande músico e um grande poeta, mas também pela pessoa que o senhor é.
A determinada altura, a Ana Sousa Dias diz que ele é “um ladrão” porque encontra no último álbum (e só se referiu a esse nesta altura) vários trechos de música que lhe faziam lembrar de imediato outras músicas de outros autores. O Palma responde a rir que sim, é possível, e passa a explicar o que é para ele essa coisa do plágio. Diz o senhor que é impossível um músico ou um escritor de letras, não ser influenciado por coisas que ouviu ou que leu. As coisas ficam na memória e acabam por sair sem que quem está a escrever se aperceba. Ora, nestas situações não há intenção de plagiar. E conta ainda um episódio em que escreveu uma letra para uma canção e depois do álbum editado percebeu que tinha plagiado um título de uma editora bastante conhecida. Como consciencioso que é, escreveu uma carta a pedir desculpa e a explicar que foi sem intenção e que só se apercebeu do facto depois. Em resposta recebeu algo do género: “Oh Jorge Palma, deixa-te dessas merdas!”. De facto, acho que nestas situações, só fala em plágio, quem quer ser mais papista que o papa.
Quando andava no liceu, tinha a mania que escrevia umas coisas e a determinada altura escrevi um poema, que achei eu que estão muito bom, e decidi mostrá-lo à professora de português. Ela leu com muita atenção, disse que gostava, mas que eu devia deixar de ler Cesário Verde. Na verdade tinha lido Cesário há pouco tempo e o que aconteceu é que tinha utilizado frases do autor e até algum sentido. Seria isto plágio? Não era. A senhora explicou-me que era normal eu sentir-me influenciada e até poderia ser benéfico.
Num determinado álbum dos The Gift, também eu ao ouvi-lo descobri trechos de músicas de Portishead, e não li ou ouvi alguém referir-se a isso. Porque não é importante. Quem me dera que os The Gift aprendessem mais com os Portishead.
Mas esta coisa do plágio na música, suscitou ou ressuscitou cá em casa uma antiga discussão, sobre o processo que os Muse puseram à Celine Dion, por ela ter usado a palavra Muse. Também deveria concordar que esse processo não faria sentido, mas neste caso recusei-me a concordar, talvez por detestar a Dion (que me desculpem os fãs, mas a musica da senhora é um atentado à minha sanidade mental), e fiz bem. Decidi ir pesquisar e tentar perceber o porquê desse processo. E percebi.
Ora, a senhora Dion utilizou a palavra Muse no nome de um show que iria dar em Las Vegas, que soava assim: “Celine Dion Muse”. Os Muse não gostaram (eu também não gostaria). Alegaram eles que parecia que os Muse iam actuar com a Dion ou até mesmo fazer a 1ª parte do concerto ou algo do género. Na altura os Muse foram criticados por, na opinião de muita gente não passarem de uma banda britânica obscura e sem nome reconhecido na América e que por isso era normal a senhora Dion nunca ter ouvido o nome deles (esta fez-me rir). No entanto não explica porque é que a dita senhora ofereceu $50.000 USD (que foi recusado, obviamente) para poder continuar a usar a palavra Muse, enfim… É exactamente por ser uma banda pouco conhecida na América mas com intenções de o vir a ser mais, que este processo existe e muito bem. Justifica Mathew Bellamy (vocalista dos Muse) em entrevista a BBC: “We fully intend to crack America with our next album and we don’t want to turn up with people thinking we’re Celine Dion’s backing band” e “I find her music completely offensive for a start and I’m sure ours fans do as well” e ainda diz no site official da banda o seguinte: Muse are outraged by this absolute disregard for another artist’s identity. This is also pure capitalism – i.e. a large company using it’s wealth to trample over others. A press release has gone out over the weekend. Muse will continue to stand up for their rights”. O certo é que a senhora mudou o nome à coisa e os Muse arrasaram mesmo e continuam a arrasar com os seus álbuns. Há muito que deixaram de ser uma banda obscura e passaram a ter milhões de fãs por esse mundo fora.
Para quem nunca ouviu Muse, aconselho o álbum “Origin of symmetry” lançado um ano antes desta polémica.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Linda, as fronteiras entre o plágio e as influências traduzidas em inéditos é ténue. Não basta para a lei o facto de não se saber, nem a intenção do autor o fazer ou não. O critério é objectivov e tem a ver com a prova de que há trablhos artísticos prévios com o mesmo nome, as mesmas frases, notas musicvais, etc. Detesto a Céline Dion, que nada de musa terá para mim, mas os Muse enquanto banda, registam-se enquanto tal, por isso não acho que tenham razão. Se a Céline arggghhhhhh Dion tivesse formado uma banda chamad Muse, ou os Muse uma canção com o mesmo nome o caso seria, para nmim totalment diferente. Mesmo sem razão, mais do que entendo a contestação enérgica dos Muse. Grande album o que referiste. Sublime.Beijos grandes Linda.
Ps-acho que já falámos sobre isto?....

6:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ligação feita, Repórter. Mas continuo a pensar que ninguém é dono de palavras, apenas de marcas,nomes de obras,textos,etc. Se eu ecrever um poema em inglês com o título "Muse", não havia processo da banda em causa que se aguentasse porque não me identificava como "muse", nem teria essa pretenasão... E roubo em matéria de propriedade intelectual ou noutro contexto qulquer, revela sempre intenção de..roubar. Isso tem que se provar em tribunal, porque nínguém rouba sem querer...

8:32 da tarde  
Blogger mabeka said...

Execto joão, as fronteiras entre plágio e não plágio são muito ténues, mas existem. Quanto á Celine Dion, não foi plágio, foi associação duvidosa de nomes, e o facto é que ela alem de oferecer dinheiro acabou por retirar a palavra muse do nome do show.
beijo grande

2:40 da tarde  
Blogger mabeka said...

Reporter, claro que plágio é isso, mas... quando é que é plágio? era essa a intenção do meu texto, tentar explicar que nem tudo é plágio.
bjs

2:42 da tarde  
Blogger mabeka said...

Oh joão, mas se escreveres um texto com "João Domingues Muse" a coisa já era bem diferente, não era? ai ai....
beijo

2:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Baixo a cabeça...seria diferente, além de totalmente despropositado. Mas mesmo assim,acho que os Muse estiveram um pouco mal, com uma decalração exagerada, porque a Céline arrrgghhhh Dion não teria qualquer necessidade de se associar a eles. Acho os Muse uma banda espetacular mas infelizmente quem faz milhões é a arrrrghhhhh! E se o dinheiro nunca deve limitar quem tem direitos ou não, ou quem os pode exercer, acho que os Muse agiram como se a arrghhhh tivesse montado uma cabala contra eles. Mas oxalá as finanças da banda se aproximem cada vez mais das finanças da arrrghhhh!!!
beijos grandes Linda.

6:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gosto muito do som do Muse e amo Celine (que para mim, é uma das maiores vozes do planeta), mas creio que a banda exagerou um "tantão" rsrs...

4:35 da manhã  

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