segunda-feira, agosto 14

A minha primeira casa

Dizem que em tudo é sempre mais importante a 1ª vez ou mais inesquecível. Pois com a minha 1ª casa também foi assim. Antes disso vivia com os meus avós, e embora não tivesse conhecido outra casa, era sempre a casa dos meus avós e não a minha.
Um dia, a minha mãe num acto de coragem disse-me “ – E se comprasse-mos uma casa em Almada. O que achas?”. A partir desse momento não descansei mais até ver aquela que seria a minha casa durante uns anos. Triste por deixar o mar que me acompanhava desde sempre, mas feliz por ir para outro lugar, experimentar outra vida.
Era um apartamento usado, mesmo velho, numa zona velha, a precisar de obras profundas. Uma cave com varanda para o quintal da sub-cave e com vista para a torre da igreja e para o morro dos moinhos.
Durante meses, antes das obras serviu de poiso depois das noitadas, de sala de explicações de geometria descritiva, de poiso de gente que só queria um espaço para conversar à volta de uma garrafa de vinho. Depois começaram as obras e com elas a visita quase diária para ver o espaço tomar forma, as ideias, as discussões com o pedreiro, a guerra com as baratas, as portas da sala saídas de um “sallon” imaginário e por fim a estreia.
Foi uma aventura saborosa e de boa memória. Um ponto de partida para uma outra vida.
Hoje, uma amiga fez-me recordar tudo isso, ao dizer-me que entrou nessa casa pela mão do actual dono, onde reviveu parte dessa aventura, a parte que lhe coube.
É estranho mas prazenteiro este reviver de memórias inesperadas. Gostava de revisitar essa casa.
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