quinta-feira, julho 28

Tão mal se escreve por aí...


Não tem sido fácil escrever nestes últimos dias, mas não é por falta de ideias ou por pouca vontade de desabafar. Na verdade a minha cabeça fervilha de textos que poderia escrever, mas sobre assuntos que de tão incómodos para mim, sinto que não os devo partilhar com o mundo. Ontem surgiu-me um pensamento que talvez valha a pena partilhar.
De repente percebi que alguém, que de mim pouco ou nada sabe, chegou à brilhante conclusão que os comentários que faço nalguns sites de acesso publico (e ás tantas também os textos que aqui escrevo) não podem ser da minha autoria. Afirma esse alguém que até posso ser eu a escrever mas que serão ditados ou escolhidos por outra pessoa. Fiquei perplexa! E acabei por perder algum tempo a pensar nisso. Ora, ao ler aquilo que esse alguém escreve não foi difícil chegar a uma conclusão: As pessoas julgam os outros à sua própria imagem.
Provavelmente eu farei o mesmo sem me aperceber, até porque quando tento ler o que esse alguém escreve, o pensamento que me assola é: - Mas como é que alguém escreve assim tão mal? Não entendo! Na verdade não é normal conhecer alguém na casa dos 30 anos sem saber escrever Português de um modo mais ou menos correcto. Lembro-me dos bilhetes que a minha avó me deixava com recadinhos, que geravam sempre uma boa risota depois de um longo esforço a tentar decifrá-los. Mas a minha avó nasceu na primeira década do século XX, nunca foi á escola e só aprendeu a ler e a escrever muito tarde e através do seu próprio esforço. Eu não domino a língua portuguesa e por vezes deparo-me com palavras que não sei escrever na sua forma correcta ou com outras sobre as quais desconheço o seu significado (para já não falar da pontuação). Mas não é por isso que as “assassino” ou que passo por elas com indiferença. Se não sei, vou procurar algo ou alguém que me ajude a ficar a saber. Isto para mim é básico.
A leitura também ajuda, julgo eu. E esse é um hábito que a maior parte da geração anterior á minha não tem. À uns anos atrás, um amigo visitou a minha casa pela primeira vez e ao chegar á sala, mirou em volta perplexo e perguntou-me para que eram aqueles livros todos, se eu já os tinha lido. Respondi que sim, com excepção dos livros que serviam apenas para consulta. Ficou chocado! Ele nunca tinha lido um livro. Ora, chocada fiquei eu, caramba! Desde muito miúda que leio. Leio tudo o que me aparece á frente, jornais, revistas, romances, dramas, ensaios, biografias, relatos históricos (neste momento estou a ler a biografia dos Reis de Portugal). Gosto de ler. Ler é divertido, ler é viajar, ler é conhecer, ler é abrir horizontes, ler é exercitar o cérebro, ler é uma série de coisas que só nos fazem bem. O meu avô, um homem que nem a 4ª classe tinha, lia. Lembro-me das suas tardes de reformado, sentado no alpendre durante horas, com um livro ou um jornal como companhia. Desde muito cedo me incentivou a ler. Dizia que ler era importante, que havia muito mundo lá fora e que através da leitura podia-mos conhecer uma pequena parte desse mundo. Mal ele sabia que anos mais tarde chegaria a Internet. Consigo imaginá-lo a trocar as tardes no alpendre pelas longas horas á frente de um computador. Ou se calhar a partilhar as suas tardes entre o alpendre e o computador. Como ele ficaria maravilhado se tivesse conhecido a Internet e tão desiludido ao ler o que se escreve por aí.

2 Comments:

Blogger gatoo said...

Há já algum tempo que não lia algo tão verdadeiro e que em poucas linhas define muito da atual realidade.

4:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Belíssimo tributo ao teu avô!!! Mas como em qualquer coisa nova a explorar que nos surge na vida, parece-me que vem sempre associada uma estranha mistura de entusiasmo e desilusão. Não desistir é para mim, imperativo!

3:28 da tarde  

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