sexta-feira, fevereiro 6

Comunicar através de música, ou não!



Há uns tempos atrás estava a comentar uma música partilhada no facebook por um amigo e surgiu-me um pensamento – “É possível comunicar através de música, sem sequer pronunciar (ou escrever) uma única palavra”. Ao que ele me respondeu com uma música de título “exactly”. Rimo-nos um pouco e a coisa ficou por aí.
Porque muita gente gosta de dizer o que pensa ou o que sente, através da música, tenho perdido algum tempo a pensar nisto e chateado alguns amigos ligados á musica com este assunto.
A conclusão a que cheguei é de que é possível, claro, mas é uma treta. E isto, porque pode tornar-se em algo muito ambíguo, sujeito a interpretações incorrectas e a mal entendidos desagradáveis.
Nem todas as músicas têm o título e o “sentido” da letra da canção coincidentes, por vezes são até bastante contrários. Depois, cada um tira da mensagem, aquilo que mais lhe convêm. E além disso, como na maior parte das vezes, a música não é na nossa língua de origem, as traduções saem um bocado ao lado.
Por exemplo, uma das músicas mais partilhadas no facebook é o “There is a light and it never goes out” dos The Smiths, que uma grande parte das pessoas vê como uma canção de amor, e eu acho que não o é. Há uns dias vi uma partilha desta música, em que uma moça dedicava esta música ao namorado. Fiquei com pena do rapaz. Ou estava a passar por um mau bocado ou tinha a namorada errada.
Na minha opinião esta canção não é de amor, mas de desespero e sim, também de esperança. Se não vejam  bem a letra, “I never never want to go home, because I haven't got one anymore” ou “And if a double-decker bus, crashes into us, to die by your side, is such a heavenly way to die”. É claro que evidenciar apenas o titulo e o refrão, ou “Take me out tonight, where there's music and there's people, and they're young and alive” e lá chegamos á esperança. Mas é curto para ser uma canção de amor.
Quando damos apenas atenção ao título ou a um simples verso numa letra de uma canção, corremos o risco de dizer mais do que o que queremos e fazer com que a mensagem se torne vazia.
No fundo, a meu ver, para duas pessoas se entenderem completamente através da música é preciso que ambas conheçam bem as musicas ou que definam as regras. Mas isso tirava toda a piada da coisa, acho. Tornava-se algo pesado, estudado e lá ia a espontaneidade embora.
Enfim, o melhor mesmo é as pessoas falarem umas com as outras com palavras. Dizerem nos olhos do outro aquilo que sentem ou pensam e deixarem de partilhar músicas, como “recadinhos” ou grandes mensagens, nas redes sociais. Exactamente como li num bar Almadense, por acaso bastante interessante, “Não temos Wi-Fi, se querem conversar falem uns com os outros”.
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