Comunicar através de música, ou não!
Há uns tempos atrás estava a comentar uma
música partilhada no facebook por um amigo e surgiu-me um pensamento – “É
possível comunicar através de música, sem sequer pronunciar (ou escrever) uma
única palavra”. Ao que ele me respondeu com uma música de título “exactly”.
Rimo-nos um pouco e a coisa ficou por aí.
Porque muita gente gosta de dizer o que
pensa ou o que sente, através da música, tenho perdido algum tempo a pensar
nisto e chateado alguns amigos ligados á musica com este assunto.
A conclusão a que cheguei é de que é
possível, claro, mas é uma treta. E isto, porque pode tornar-se em algo muito
ambíguo, sujeito a interpretações incorrectas e a mal entendidos desagradáveis.
Nem todas as músicas têm o título e o
“sentido” da letra da canção coincidentes, por vezes são até bastante
contrários. Depois, cada um tira da mensagem, aquilo que mais lhe convêm. E
além disso, como na maior parte das vezes, a música não é na nossa língua de
origem, as traduções saem um bocado ao lado.
Por exemplo, uma das músicas mais
partilhadas no facebook é o “There is a light and it never goes out” dos The
Smiths, que uma grande parte das pessoas vê como uma canção de amor, e eu acho
que não o é. Há uns dias vi uma partilha desta música, em que uma moça dedicava
esta música ao namorado. Fiquei com pena do rapaz. Ou estava a passar por um
mau bocado ou tinha a namorada errada.
Na minha opinião esta canção não é de
amor, mas de desespero e sim, também de esperança. Se não vejam bem a letra, “I never
never want to go home, because I haven't got one anymore” ou “And if a
double-decker bus, crashes into us, to die by your side, is such a heavenly way
to die”. É claro que evidenciar apenas o titulo e o refrão, ou “Take me out tonight, where there's
music and there's people, and they're young and alive” e lá chegamos á
esperança. Mas é curto para ser uma canção de amor.
Quando damos apenas atenção ao título ou
a um simples verso numa letra de uma canção, corremos o risco de dizer mais do
que o que queremos e fazer com que a mensagem se torne vazia.
No fundo, a meu ver, para duas pessoas se
entenderem completamente através da música é preciso que ambas conheçam bem as
musicas ou que definam as regras. Mas isso tirava toda a piada da coisa, acho.
Tornava-se algo pesado, estudado e lá ia a espontaneidade embora.
Enfim, o melhor mesmo é as pessoas
falarem umas com as outras com palavras. Dizerem nos olhos do outro aquilo que
sentem ou pensam e deixarem de partilhar músicas, como “recadinhos” ou grandes
mensagens, nas redes sociais. Exactamente como li num bar Almadense, por acaso
bastante interessante, “Não temos Wi-Fi, se querem conversar falem uns com os
outros”.
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