quarta-feira, abril 20

Procura-se serenidade perdida numa tarde frágil...


Por vezes basta um olhar, um simples encontro furtivo entre olhares, ou um toque de pele não intencional e algo se acende, como um pequeno choque indolor. Outras vezes é uma simples conversa, inócua, aparentemente sem qualquer consequência, mas tão subtilmente cheia de vontades, tão subtilmente que só damos por isso quando já não há conversa. Inesperadamente já estamos “enrolados” em algo que não quisemos, e continuamos a não querer, ou achamos racionalmente que não. E por mais que digamos para nós próprios “não… não vás por aí, esquece isso…”, a ‘coisa’ vai permanecendo, esquecida por momentos mas sempre viva e incómoda. Tentamos não lhe dar importância numa luta inglória cansando-nos até ao adormecimento. É quase desesperante como o cérebro, tão racional, não deixa essa racionalidade vencer.
Arranjamos uma centena de desculpas para não querer e outras tantas para achar que talvez, talvez valha a pena perceber o que é. Andamos nisto demasiado tempo, ao ponto de quase termos vontade de pôr um anúncio nos perdidos e achados “procura-se serenidade perdida numa tarde frágil”.
Há dias, numa das noites em que me abandonar no sofá me parece a solução, deparei-me com uma frase num filme “deixamos de tocar os outros porque não queremos que eles percebam o que sentimos” ou algo parecido com isto. É verdade. Tentamos ignorá-los (como se isso fosse possível), dizemos para nós que não queremos saber, mas queremos… e vamos sabendo ou achando que sim. E lá decidimos tentar abordar a ‘coisa’, mas como serenidade já não temos, baralhamos tudo e ficamos pior, e lá voltamos ao mesmo “opá…esquece lá isso, tu não queres mesmo continuar nesta insanidade”. Enfim… um dia passa, já não sentimos nada, apenas um imenso vazio.
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