Viajar de avião
Viajar
de avião, mesmo em distâncias curtas e para gente que como eu não tem medo de o
fazer, nunca é fácil. Começa logo na chegada ao aeroporto e pela passagem na
zona de controlo. As filas nunca são pequenas e aquela coisa do despejar os
bolsos, tirar o cinto e os sapatos, é sempre demorado e em algumas pessoas
parece uma tarefa para a qual precisam de ajuda. Enfim, o melhor é ir brincando
com a atrapalhação dos outros e esperar que passe. Depois temos o embarque, que
no caso das viagens low-cost de curta distância se torna algo deveras maçador.
Depois de ultrapassada a porta de embarque, é caminhar e esperar ou esperar e
esperar até que te deixem chegar ao avião. Numa viagem que demorar pouco mais
de 40 minutos, já estamos á quase 1 hora em pé e ainda não chegámos ao avião.
Isto é algo que para além de cansativo é demasiado aborrecido.
Mas há uma
companhia aérea low-cost que consegue com que os passageiros deixem o ar
cansado e aborrecido fora do avião. Já viajei em várias companhias e nunca me
tinha rido tanto durante um voo como me aconteceu este ultimo fim-de-semana.
Pela primeira vez viajei com a Ryanair e fui surpreendida com a boa disposição
e “palhaçada” com que o pessoal de bordo brinda os passageiros. Na viagem
Lisboa – Porto “arrebitei as orelhas” logo depois da descolagem quando o
comandante me brinda com a seguinte frase “senhores passageiros, infelizmente e
devido á turbulência que se faz sentir, tenho que lhes pedir que se sentem e
apertem os cintos. E lamento informar que é extremamente proibido dançar o
fandango no corredor”. Soltei uma gargalhada que fez com que o fulano que
estava ao meu lado e com os phones nos ouvidos (por isso não ouviu o mesmo que
eu) me olhasse como se eu estivesse louca. Mal refeita estava e ouço de novo
uma voz “Tanrannana…. Tanrannan… senhoras e senhores, meninas e meninos, chegou
a hora mais esperada… chegou o momento da raspadinha!” e enquanto isto está um
fulano no meio do corredor a fazer caretas e a esbracejar, com cartões de
raspadinha em ambas as mãos, enquanto a tal voz vai explicando o que pode sair
e para onde vai uma parte do dinheiro obtido com a venda daquele jogo. E lá
estava eu de novo a rir que nem uma maluca. Mas de facto, o voo passou sem
quase dar por isso e saí do avião com um sorriso estampado na cara, eu e os
outros cento e muitos passageiros.
Dois dias depois, no voo de volta a Lisboa,
a “palhaçada” repete-se. Desde a informação de que “devido ao atraso de 5
minutos, já não será possível parar na estação de Aveiro nem na de Coimbra B,
mas se a coisa não se agravasse podia fazer-se um jeitinho para quem quisesse
sair no Entroncamento, mas podem sempre fotografar o Santuário de Fátima que
vai aparecer á direita do avião”, passando por uma comunicação começar com
“esta é a Voz…” e acabando com o famoso momento raspadinha, tudo no voo de
regresso foi no mínimo um sorriso de orelha a orelha e que me fez esquecer que
desta vez já tinha passado a porta de embarque e ainda o avião não tinha
despejado os passageiros que trazia de Lisboa. Aquilo é sem duvida uma
“carreira” regular entre Lisboa e o Porto, sendo que a paragem no Porto é mesmo
só para trocar de passageiros e abastecer o avião, o que poderia deixar muita
gente preocupada, mas basta entrar no avião para esquecer esse tipo de
preocupações. Se calhar até é essa a intenção, mas prefiro pensar que, talvez
por isso mesmo, por passarem várias horas seguidas sem pisar terra firme,
encontraram do melhor modo uma forma de descontraírem os passageiros e em última
análise se descontraírem a eles próprios. E estão atentos aos passageiros,
lembram-se dos que viajaram com eles dias antes, perguntam como foi a estadia,
e rematam as conversas com algo engraçado e agradável. Sem dúvida alguma
voltarei a viajar com a Ryanair sempre que for possível, a rir-me durante um
voo completo e a raspar um cartão de jogo.
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