A senhora dos trilhos
Ultimamente
tenho ocupado as últimas horas da tarde com uma ida ao Parque da Paz para
exercitar um pouco as pernas. Durante esse tempo, não só ocupo a cabecinha com
tudo o que é pensamento (e confesso que alguns são perfeitos disparates ou
assuntos completamente inúteis) como também observo o que me rodeia. E o que
mais me intriga são as pessoas. Ao fim de algum tempo e num processo quase
diário, é normal que as comecemos a identificar as pessoas e de certa forma, a
percebe-las. Pelos tiques, pelo modo como se movimentam e até pelo modo como olham
ou sorriem. Por exemplo: a menina que corre, mas que entre cada passada ajeita
o calção ou o top sem nunca se esquece de olhar para um lado e outro, o senhor
que passa de bicicleta em grande velocidade como se tivesse pressa de chegar a
algum lado, a senhora que vai passear o cão a olhar para tudo e todos excepto
para o cão e que invariavelmente se esquece que tem um cão na outra ponta da
trela ou ainda os moços que correm mais a sério até que se deparam com uma
fulana mais escultural e atrasam a passada para correrem com vista. Tudo isto
se me é dado a observar durante o meu exercício.
Mas,
de quem queria falar mesmo, é de uma senhora com que me cruzo sempre que lá
vou, e que me surpreende. É uma senhora de idade já avançada, com um ar frágil
e passo meio inseguro. Sempre muito bem arranjada, de malinha na mão, lá vai
ela em grandes caminhadas. E o que me surpreende, nem sequer é o facto de a
encontrar sempre e sozinha, é ela aventurar-se pelos caminhos mais tortuosos do
parque, ou seja, os trilhos pelo meio do mato. Seria de esperar que ela se
limitasse aos caminhos pavimentados mais ou menos planos. Mas não, a senhora não
tem medo de um caminho mais acidentado.
Sinto-me
deveras intrigada e maravilhada com a senhora e espero um dia destes arranjar
maneira de encetar uma conversa e quem sabe acompanhá-la pelos seus trilhos.
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