terça-feira, agosto 4

A senhora dos trilhos



Ultimamente tenho ocupado as últimas horas da tarde com uma ida ao Parque da Paz para exercitar um pouco as pernas. Durante esse tempo, não só ocupo a cabecinha com tudo o que é pensamento (e confesso que alguns são perfeitos disparates ou assuntos completamente inúteis) como também observo o que me rodeia. E o que mais me intriga são as pessoas. Ao fim de algum tempo e num processo quase diário, é normal que as comecemos a identificar as pessoas e de certa forma, a percebe-las. Pelos tiques, pelo modo como se movimentam e até pelo modo como olham ou sorriem. Por exemplo: a menina que corre, mas que entre cada passada ajeita o calção ou o top sem nunca se esquece de olhar para um lado e outro, o senhor que passa de bicicleta em grande velocidade como se tivesse pressa de chegar a algum lado, a senhora que vai passear o cão a olhar para tudo e todos excepto para o cão e que invariavelmente se esquece que tem um cão na outra ponta da trela ou ainda os moços que correm mais a sério até que se deparam com uma fulana mais escultural e atrasam a passada para correrem com vista. Tudo isto se me é dado a observar durante o meu exercício.
Mas, de quem queria falar mesmo, é de uma senhora com que me cruzo sempre que lá vou, e que me surpreende. É uma senhora de idade já avançada, com um ar frágil e passo meio inseguro. Sempre muito bem arranjada, de malinha na mão, lá vai ela em grandes caminhadas. E o que me surpreende, nem sequer é o facto de a encontrar sempre e sozinha, é ela aventurar-se pelos caminhos mais tortuosos do parque, ou seja, os trilhos pelo meio do mato. Seria de esperar que ela se limitasse aos caminhos pavimentados mais ou menos planos. Mas não, a senhora não tem medo de um caminho mais acidentado.
Sinto-me deveras intrigada e maravilhada com a senhora e espero um dia destes arranjar maneira de encetar uma conversa e quem sabe acompanhá-la pelos seus trilhos.
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