Uma ida ao cinema
Era noite de cinema. Assim tinha sido em todas
as quintas-feiras desde que o verão tinha começado. Mas era sempre uma enorme chatice.
Na vila apenas havia uma sala, com um filme semanal, sem escolha, apenas um. E
por vezes, por razões que desconhecia por completo, a reposição não era feita
atempadamente. Nessas alturas, quase que suspirava de alívio, podia recusar sem
qualquer culpa, essa ida ao cinema. Noutras, mesmo que achasse o filme uma
enorme estopada completamente desinteressante, não tinha como recusar. Os
amigos insistiam, chateavam, requisitavam a sua presença sem lhe dar a mínima hipótese
de recusa. E ela lá ia, contrariada mas cheia de paciência para passar mais uma
noite a ver sem sentir, apenas a ver imagens passarem-lhe diante os olhos até
se sentir exausta e os fechar. Eram assim a maior parte das noites de cinema.
Suspeitava que esta não ia ser diferente.
Saiu para se encontrar com os amigos na
esplanada do costume. Já lá se encontravam, felizes numa noite quente de verão.
Cumprimento-os e pediu um café e uma aguardente velha. Ao menos isso, ia contrariada
mas com o espirito satisfeito. Bebeu o café intercalado com suaves goles de
aguardente e esforçou-se por se juntar á alegria dos companheiros. Ao chegar ao
cinema comprovou que o filme não lhe interessava minimamente, ia ser uma
estopada. Chamava-se 'A banqueira', um filme francês de 1980 realizado por Francis
Girod, com a participação de Rommy Schneider e Emma Eckhert. Enfim... ia ser
mais uma daquelas noites.
Com um sorriso resignado e depois de lhe porem
o bilhete na mão, lá foi á procura do seu lugar. Sentou-se e preparou-se para
duas horas de perfeita letargia. Ouviu o sinal de desligar de luzes e olhou
para a cadeira do lado. Estava vazia. Menos mal, sempre se podia esticar para
aquele lado sem incomodar ninguém. Recostou-se e fechou os olhos. Vamos lá. As
luzes apagaram-se, toda a sala ficou em silêncio e as imagens começaram. De
repente sentiu alguém sentar-se na cadeira vazia. Há sempre os que chegam já
depois do filme começar. Lá ia ter que ficar meio encolhida, ou então
esticava-se já para aquele lado, não dando qualquer hipótese do ocupante da
cadeira se sentir muito á vontade. Aquela sala tinha um problema, além de as
cadeiras serem de madeira se estofo, os braços eram partilhados entre cadeiras.
Se alguém pousava o seu braço sobre o braço da cadeira, o vizinho do lado sentia-se
bastante apertado. Ela ia já resolver essa questão e esticou o seu braço sobre
o braço da cadeira.
Tal como suspeitava, o filme estava a
revelar-se entediante, o que a fez suspirar com desânimo. Até que, de repente,
sentiu uma mão sobre a sua perna. Ficou alarmada, que era aquilo? O vizinho da
cadeira do lado estava a tirar-lhe as medidas á perna. Raios, e agora o que
deveria fazer? Deveria insurgir-se com tal ousadia e falta de respeito, claro.
Esticou-se para se virar para o senhor quando sentiu que a mão se tinha
deslocado para o seu braço e ouviu um sussurro numa voz doce que lhe disse "tem
calma... não te quero fazer mal, deixa-te ir". Voltou a recostar-se.
Aquilo parecia-lhe totalmente errado, mas que raio, até lhe estava a saber bem,
que mal é que poderia vir dali? E pelo menos era um homem, com voz doce e uma mão
macia. Decidiu deixar-se ir. Lembrou-se que estava de calças e que só isso iria
dar um trabalho tremendo aquela mão. Sorriu com gosto.
A mão deixou o braço e voltou a pousar sobre a
perna. Ia-se passeando entre a perna e o interior da coxa. Gostava daquela
sensação e parecia-lhe que a mão também gostava. Passado algum tempo, a mão
começou a subir pelo interior da coxa até á zona genital, pressionando-a. Começou
a sentir-se excitada. Parecia que afinal aquela ida ao cinema não iria ser má
de todo. Sorriu com malicia. A mão subiu até ao cós das calças, tacteou á
procura do botão abrindo-o com destreza. E de rompante tentou enfiar-se dentro
das calças, mas não estava a ser fácil. Estava
sentada e as calças eram apertadas. Deveria
ajudar? Decidiu que era melhor antes que aquilo descambasse e lá se fosse o
fecho das calças. Assim que deixou de sentir resistência, a mão enfiou-se
destemida nas suas calças. Sentiu-a brincar com a renda da sua lingerie, quase
até ao adormecimento, até que bruscamente se enfiou dentro dela. Gostava
daquela cadência entre suave e brusco e começou a sentir todo o seu corpo a
latejar. Sentia-se húmida. A mão também sentiu. Ouviu um abafado "que bom".
Era bom sim, não queria que aquilo parasse. A mão descobriu o seu clitóris, inchado,
quase erecto, e foi envolvendo-o com suaves massagens. Todo o seu corpo passou
para estado de tensão ao ouvir a voz da mão dizer-lhe " és tão quente, só quero
dar-te prazer". A sua boca abriu-se mas foi incapaz de emitir qualquer
som. Estava completamente absorta por aquele prazer. A mão ia alternando entre introduzir
os dedos na sua vagina e a massagem do clitóris. Começou a gemer e o amigo que
estava no outro lado perguntou-lhe se estava tudo bem. A custo respondeu que
sim. Tinha que evitar os sons o que não ia ser nada fácil. Queria perder-se
naquele prazer mas precisava de estar alerta. Tapou a boca. Sentia-se como a
subir a um cume, ansiosa com a expectativa da queda. Esticou o braço, também
queria tocar o dono daquela mão, mas foi impedida com a explicação " hoje é
só para ti". Desejava que aquele momento não acabasse, toda a sua pele
assim o pedia. E de repente sentiu uma explosão vinda dos confins do seu corpo.
Sentia o prazer emanar de todos os seu poros com um estremecimento infindável.
Por fim, sentiu de novo o chão, fechou os olhos e deixou-se escorregar na
cadeira. A mão retirou-se suavemente. Ouviu um sussuro "saborosa". Não
se atreveu a olhar para o lado. Começou a sentir culpa. A ideia de enfretar
quem lhe tinha acabado de dar aquele prazer, era aterradora. Ficou quieta até o
filme acabar e as luzes se acenderem. Olhou para o lado e viu a cadeira vazia.
Melhor assim, não se ia esquecer daquilo mas era melhor que a mão ficasse incógnita.
Não tinha sido uma noite de cinema normal. Tinha sido a melhor noite de cinema
da sua vida.