segunda-feira, dezembro 26

E lá passou...

O Natal lá passou e sobrevivi. Mas não foi fácil.
Sempre me foi difícil esta época, mesmo em miúda. Na família nunca houve a tradição de passar a consoada em volta de qualquer coisa, seja a mesa recheada de doces e iguarias ou a árvore recheada de presentes e decorações. Em casa dos meus avós, onde vivi a infância e a juventude, a noite de consoada era passada com a minha avó ao fogão a fazer filhós e coscorões, com a minha mãe e tia a ajudarem e eu à socapa a meter as mãos na massa, levando palmadas até que me mandavam para a cama. No outro dia, acordava com os presentes e com a roupinha nova para estrear e estragar logo nesse dia que eu não era dessas coisas de ter cuidado quando a lama e as árvores eram uma atracção forte demais.
Mais tarde, quando comecei a perceber porque é que o Natal lá em casa não era alegre, também deixou de o ser para mim. Talvez por isso, por deixar de o sentir como uma época alegre é que deixei de lhe dar importância. E passou a ser algo, nem triste nem alegre, passou a ser nada, apesar de alinhar nos postalinhos e nas prendinhas. Mas nessa altura era fácil passar o Natal. Agora é bem mais difícil.
Enquanto vivi com a minha mãe e irmão, a coisa ainda ia normalmente sem grandes dificuldades. Passávamos a noite em casa e no dia de Natal lá íamos almoçar com a minha avó e restante família. Era simpático, sem grandes alaridos à época, apenas com a intenção de juntar a família. Quando passei a viver sozinha é que a coisa se complicou. Acabava por passar a consoada sozinha, mas para lá chegar tinha que inventar inúmeras desculpas e dar milhares de explicações, acabando sempre por prometer juntar-me à família no dia seguinte, coisa que ás vezes nem cumpria. Outras vezes ia para o Alentejo para casa dos pais do meu padrasto. Lá não há árvore nem decorações de Natal e devido ao frio o deitar é bastante cedo.
Agora é tudo bastante mais difícil. Já nem é a minha família, que se contenta com a simples explicação de eu passar com o meu companheiro. É o meu companheiro e a respectiva família. Eu gosto de estar com eles, mas no Natal… E depois eles têm a tradição da consoada, das prendas à meia-noite, do almoço e tarde com visitas de familiares, coisas que eu entendo e em que participo com gosto, mas a consoada, essa deveria ter sido minha, em casa, com a lareira e os gatos, o meu companheiro e muito sossego e paz. E não foi. Talvez por culpa minha porque me enervei e inventei um monte de desculpas e justificações, sem ter dado uma explicação verdadeira. Explicação essa que suspeito ninguém iria entender. Mas assim, acabei por sair de casa para evitar choques, conflitos e mal entendidos, e passei uma consoada que não foi a minha. Agradável sim, mas não a minha.
Mas passou e sobrevivi, aliás sobrevivemos.
Agora aproxima-se o fim de ano a passos largos, também não vai ser fácil, mas muito menos problemático e por diferentes razões. Vamos ver…

sexta-feira, dezembro 23

BOAS FESTAS!

quarta-feira, dezembro 21

"Interior"

"Carne assaltada
da plenitude do um e do outro.
E aqui cada coisa, como se fosse a última
a ser dita: o som de uma palavra
casada com a morte, e a vida,
este meu dom
de desaparecer.

Persianas fechadas. O pó
de um antigo eu, esvaziando o espaço
que não ocupo. Esta luz
que cresce ao canto do quarto,
para onde o todo do quarto
se deslocou.

A noite repete-se. Uma voz que me fala
de insignificâncias apenas.
Nem sequer de coisas - mas dos seus nomes.
E onde não há nomes -
de pedras. Tumulto de cabras
trepando às aldeias
do meio-dia. Um escaravelho
devorado na esfera
do seu próprio estrume. E ao longe um enxame
de borboletas violáceas.

Na impossibilidade das palavras,
na palavra por dizer
que asfixia,
é que eu me encontro."

Interior in "Poemas Escolhidos" de Paul Auster

terça-feira, dezembro 20

O Pai Natal alpinista


É uma praga! Não sei se será pior do que a das bandeiras patriotas, mas é uma praga.
Falo dos Pais Natal que proliferam por essas varandas e janelas fora. São feios, são estúpidos e nada querem dizer. Mas a verdade é que não há prédio que não tenha pelo menos um exemplar escarrapachado na sua fachada.
E depois… eles vão a tentar entrar em casa dos seus orgulhosos donos ou a tentar fugir? Se eu estivesse na pele de um daqueles bonecos, com certeza que iria a fugir. A fugir do mau gosto, a fugir da “pimbalhisse”.
Eu gosto do Natal, gosto das decorações de Natal e até gosto da figura do Pai Natal, mas não entendo esta nova decoração. Já não chegava as árvores coloridas e luminosas, os presépios (alguns bastante interessantes) ou as coroas pregadas nas portas, também tinham que inventar uma decoração para os prédios? E vá lá… parece que desapareceram ou quase, as famosas mangueiras de luz que teimavam em debruar qualquer janelinha ou varandinha mais afoita. Isso já é bom.
Mas os Pais Natal…. De quem terá sido a maravilhosa ideia? Cheira-me que terá sido das lojas chinesas (também elas uma praga que prolifera sem que ninguém as trave).
Só aqui neste troço de rua onde vivo, contei quase 30 exemplares, e reparem são uma meia duzia de edifícios. É que… nem sequer é original.
E não é preciso pedir uma autorização camarária para “desfeiar” as fachadas? Eu acho que deveria, a par das marquises e afins. Com o respectivo pagamento devido. Talvez assim as pessoas pensassem um pouco antes de adquirir tal decoração.
E depois do Natal? Também ficarão a apodrecer tal como aconteceu com as bandeiras? Ou pelo contrario, e porque é um objecto a que dão apreço (sim, porque ás bandeiras ninguém respeitou), o retirarão?
Vamos ver! E espero que para o ano não lhe juntem as renas e o trenó. Isso é que seria o descalabro total.
E já agora… Um bom Natal.

terça-feira, dezembro 13

Vista parcial de Barcelona, tirada do Cruzeiro das 3 cruzes - Park Güell

Vista parcial de Barcelona tirada da plataforma principal do Park Güell

Desde a última escritura...


Quase um mês depois desde a última escritura, cá estou de novo a dar uso aqui ao Blog.
Pois é... muita coisa aconteceu nestas ultimas 3 semanas, embora o ponto alto tenha sido a viagem a Barcelona.
Barcelona continua fantástica desde a última vez que lá tinha estado. Continua cheia de história, cheia de arte e cultura e cheia de gente simpática e outras menos simpáticas. Sempre me irritou o facto de os catalães se recusarem a tentar perceber o português. Estou a generalizar e estou errada. Não é verdade, alguns não só entendem, como se esforçam mesmo por tentar falar. Acho isso simpático e muito agradável. Mas é irritante chegar a um restaurante onde a palavra "jantar" na sua versão catalã "xantar" (ou galega, fiquei na dúvida), dizer que queríamos jantar e só depois de repetir uma meia dúzia de vezes é que o moço responde com um "ahhh para cómer". E isto foi só um exemplo. Mas deixemos isso de lado.
As ruas do centro de Barcelona já por si são uma obra de arte, as Ramblas mesmo com o frio que se fazia sentir, estavam cheias de vida, o Mercat Boqueria continua fantástico assim como a plaça Real. O bairro gótico lá estava escuro, estreito, ás vezes mal cheiroso, mas com o seu movimento nocturno inerente. A marina com os seus centros comerciais e sempre debruçada sobre o Mediterrânio continua a atrair quem ao mar dá atenção. E depois... depois temos o Gaudí. O Gaudí está presente em tudo e em todos. Quase que arriscava a dizer "Barcelona é Gaudí". E não é só no Park Güel ou na La Sagrada Familia ou nos vários edifícios de sua autoria espalhados pela cidade. Gaudí está nas pessoas e no seu modo de vida, está no ar.
O Park Güel e La Sagrada Familia, obras máximas do Gaudí, lá estão, um com as construções a diluírem-se na natureza (dizem que inacabado por ele ter enlouquecido e por ter acabado o dinheiro) e a outra, a eterna inacabada em construção, cheia de turista de maquina em punho, a atropelarem-se pela melhor foto (mas isso faz parte), mas sempre com pormenores interessantes a serem descobertos.
Enfim, foram uns dias interessantes e diferentes que de descanso tiveram muito pouco.
Viajar é aquilo que mais prazer me dá, por isso já ando a pensar na próxima, será a Praga, julgo.
Entretanto, cá ficamos com o Natal, o Fim de Ano e as Presidenciais, que eu apesar de não escrever sobre isso, não deixo de acompanhar com alguma atenção. E tenho-me divertido muito.
Bom Natal e até breve.


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